Desculpa, mamãe
 



Poesias

Desculpa, mamãe

Rebeca Bittencourt


Tô indo, mamãe.
Vai com Deus, meu filho.
Cuidado na rua,
não esquece dos perigos,
arruma direito a mochila,
vê se pegou os livros,
atravessa na faixa,
manda beijo pros meninos.

Bom dia, Seu Zé, como vai?
É hora de escola, rapaz!
Vai ter campeonato no recreio,
hoje ganho do grupo inteiro.
Bolinhas de gude no último corredor.
Beleza, vou escolher e pago o senhor.

Eita, dois homens armados.
Fica aqui perto, moça.
Vai ver só querem uns trocados,
mas, se pedirem, não negue a bolsa.
Minha mãe sempre diz:
Resistir é a pior escolha.
Mas talvez não nos vejam,
vamos ficar aqui na encolha.

Barulho de sirene,
deram azar os bandidos.
A polícia por perto,
alguém para impedi-los.
Não faz isso, Seu Zé!
O barulho do tiro...
Sangra agora o bom homem,
perdi mais um amigo.

A porta está aberta
mesmo não estando tão perto.
Dá tempo, dá tempo!
Corro esperando dar certo.
Deu certo, que bom.
Já tô fora de perigo.
Por ali, seu polícia,
atiraram em meu amigo!

Talvez acudam seu Zé a tempo.
Ouço barulho, então me deito.
Que sangue é esse que eu vejo?
Essa não, é do meu peito!


A culpa foi minha, mamãe...
Não sei como fui me esquecer
que perto da polícia
preto não pode correr,
não pode se assustar,
não pode se proteger,
só pode levantar as mãos
e então obedecer.

Desculpa, mamãe, desculpa!
Um dia a gente volta a se ver.


Rebeca Bittencourt tem 27 anos. É carioca, suburbana, casada e cristã. Formada em Engenharia Civil e mestra em Engenharia de Transportes, trabalha como servidora pública na Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro. Apesar de viver no mundo dos números, desde pequena é apaixonada pelas artes e traz amor especial pelos livros. Agora, começa a dar seus primeiros passos concretos em direção ao sonho de se tornar escritora, por meio da Oficina de Criação Literária.

 

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